Recursão (Blake Crouch): raso, mas divertido
💭💭💭½
fevereiro de 2021
Bookstagram: charlindberg_
A vida é uma vagarosa despedida daqueles que amamos.
A julgar por este título, estilo não é uma das forças de Blake Crouch. A leitura é uma experiência flácida, com pouco investimento emocional. Economiza bastante na prosa, o que lembra autores seminais da ficção científica estadunidense, como Ray Bradbury; mas sem a sutileza da simplicidade.
A premissa é muito boa: uma cientista desenvolve acidentalmente uma tecnologia capaz de mapear memórias e enviar a consciência de uma pessoa para o seu eu do passado. O desenvolvimento, pelo que se propõe, é até bem executado; Barry e Helena são protagonistas simpáticos, e Slade, bem, digamos que cumpre bem o seu papel.
No entanto, dada a complexidade do tema, é impossível não pensar nas infinitas possibilidades que o livro poderia explorar, mas sequer considera.
[SPOILER]
Barry não pensa em Meghan, sua filha morta, nenhuma vez enquanto começa a namorar Helena. Parece que ele esquece que ela existiu, tanto quanto esquece nas vidas posteriores (nas quais ela de fato não existiu). São momentos assim que tornam a experiência emocional inconsistente.
Helena diz que não é seguro enviar a consciência de volta à infância de alguém, porque o cérebro adulto é mais desenvolvido, e não há como saber que consequências isso acarretaria para o sujeito. A despeito de nenhum estudo ser feito nesse sentido, Helena o faz múltiplas vezes depois, sem nenhuma consequência imediata.
[/SPOILER]
Infinitas possibilidades da cadeira são inexploradas. Este seria um título com potenciais temáticas das mais diversas. No entanto, creio que se o autor se aprofundasse mais na questão, provavelmente não seria o livro que queria escrever. Ele é o que é: um romance simples.
O lado bom é que o livro é conciso, e, em sua estrutura narrativa, parece saltar através de uma série de climaxes antes de atingir o final. Uma leitura leve, rápida e que entretém — que é o seu propósito principal (não há grandes ideias aqui).
As referências e exposições nada sutis também não colaboram (“Vejo que você também leu John Locke”, ou “Estação Fawkes, inspirada em Guy Fawkes”; digo, dá pra ser menos óbvio?). E com cientistas explicando uns para os outros conceitos básicos de física, é praticamente o equivalente literário de um Christopher Nolan.
O desfecho, porém, é excelente. 👌
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